Uma breve História sobre alguém ou algo.


Era uma vez um bebê. Então esse bebê cresceu, se tornou um menino. Um menino chato por sinal. Ele só queria saber dele mesmo, e olha que ele só tinha três anos de idade. Mas a vida seria muito cruel para esse menino. Ainda no começo de sua vida o seu pai ganhou na Mega-Sena. Ficaram ricos e famosos, e seus pais foram assassinados um mês depois. Porém o advogado da família conseguiu salvar uma parte do dinheiro. Na verdade ele salvou tudo, mas cobrou cinqüenta por cento de honorários sobre o valor do bem em questão. Enfim, esse menino se tornou rico ainda com menos de cinco anos de idade e sem ninguém para criá-lo, a não ser seu irmão, que tinha dezessete anos na época, e como todos os garotos dessa idade, só queria saber de aproveitar a vida. Resultado: teve que se criar sozinho.

Seu irmão não fazia questão de lhe cobrar nada, mas havia uma governanta na casa, que fazia o seu melhor para deixar tudo em ordem e fazer com que o nosso protagonista tivesse um futuro descente, afinal aquele dinheiro não duraria para sempre. Então o menino cresceu mais um pouco, agora com seus doze anos, já começava a diferenciar as coisas. Certo e errado, bom e mau, menino e menina. Fazia como deveria ser feito, porém fazia sozinho.

Seu irmão se envolveu com drogas cedo, na verdade ele já estava envolvido antes mesmo de seus pais morrerem, porém agora ele não era apenas um utilizador, era também um vendedor, um projeto mal feito de traficante. Não durou um ano no cargo. Numa emboscada de um vendedor rival, acabou por levar oito tiros no peito e dois na cabeça. Nosso menino viraria homem sozinho.

Seus dezoito anos pareciam promissores. Apesar de ter perdido toda a família, ele conseguiu guardar um pouco do dinheiro ganho no passado, o que seu irmão não teve tempo de gastar. Ele estudava, fazia faculdade de direito, e tirava ótimas notas, alias, era um ótimo aluno em todos os aspectos. Todos ali sabiam de sua historia, então não estranhavam o fato dele ser tão quieto e perdido em pensamentos. Mas a verdade é que o nosso protagonista tinha planos.

Formou-se, fez graduações, mestrado, doutorado e agora, com trinta e um anos, se preparava para o doutorado. Mas seu jeito de menino de dezoito anos, quieto e pensativo, não havia mudado nada. Com o resto do dinheiro que ainda lhe sobrava, ele havia aberto um escritório de advocacia, e fez desse escritório uma referencia nacional em causas de promotoria.

Mas nosso protagonista não chegaria aos quarenta anos. Dois anos depois, com seu doutorado em fase final, ele decide que é hora daquele menino o dominar novamente. Seis meses depois, com seu titulo de doutorado em mãos, ele viaja. Mas ele não vai para qualquer lugar, alias, ninguém sabe para onde ele vai. Ninguém sabe, mas todos querem saber aonde aquele advogado de sucesso, com trinta e três anos, que nunca tirou férias em quase duas décadas de serviço, vai. Mas isso continuaria um mistério, ninguém mais o veria.

Nosso protagonista, agora com toda a certeza que lhe convém, decide o que fazer. Ele não quer mais viver. Não quer ser esquecido, assim como seus pais foram, como seu irmão foi, ou como a governanta que lhe criou foi. Mas ele sabia que ninguém lembraria dele. Então ele foi para o lugar mais remoto do mundo. Um lugar sem nome, de matas virgens, do gelo mais branco que existe, dos verdes contrastantes que esperavam para serem descobertos. E lá ele ficaria. Para o resto da sua vida ele ficaria sozinho. Ali ele permaneceria, até mais ou menos cem anos.

Mas ele não morreu. Morreu na verdade quando viajou, mas reviveu quando se encontrou consigo mesmo. Essa historia toda, que bem poderia ser uma estória, não é para que se reflita, que se pense, nem nada assim. É apenas para dizer que, se você um dia teve tudo, mas de repente perdeu tudo, lute, pois você pode conquistar tudo de novo.

O nome do nosso personagem? Ele bem que poderia se chamar Esperança. Mas seu nome é Perseverança, pois ele não esperou a ajuda alheia para se reerguer, ele fez por si só.