E depois?

- Ana, és tão esperta e tão confusa, ao mesmo tempo. Como consegues?
- Não é questão de conseguir ou não, Pedro. Sou assim. Tudo passa tão rápido, é tudo tão fácil, eu só expresso tudo isso.
- Mas o que diz, o que pensa, por mais confuso que seja, expressa de forma tão pura, tão simples. És objetiva em tudo, com todos.
- Eu maquino tudo, Pedro, tudo. Expresso de forma que possas entender. Alegro-me em saber que entendes!
- Sim, entendo, mas e os outros?
- Os outros não me escutam, Pedro. Não escutam.
- E Luca? Ele é tão atento ao que falas.
- Luca é atento, sim. Mas não tem tanta capacidade como você. Ele ainda tem muito para aprender. É jovem ainda, e tem vontade de aprender.
- Tento explicar coisas pra ele, também. Esses dias falei sobre o ácido a ele.
- E ele?
- Acho que não entendeu bulhufas do que disse.
- Não se preocupe, se não entendeu, um dia entenderá. Um dia todos entenderão.
- Amo a confiança que tens! És realmente o pior dos ácidos.
- Porque diz isso?
- És objetiva, sabe o que falar e a hora de falar, és astuta e cautelosa. Tens um futuro promissor.
- Obrigada, Pedro, obrigada! Mas vou te confessar uma coisa: nunca gostei de ser assim.
- Mas porque, Ana, por quê?
- Porque isso é só o que as pessoas vêem, só. É o que transmito a elas. É o que quero que pensem, que vejam. Sou a pior das criaturas.
-...
- As pessoas vêem uma Ana forte. Mas na verdade, sou fraca, medrosa. E por ter esse medo e essa fraqueza me escondo, escondo-me de mim mesma.
- Nossa, Ana! Não sabia que se sentia assim...
- Ninguém sabe. Ninguém.

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