Agora é a vez dele


O mundo está acabando.
Para cristãos a frase não seria essa, seria: “é a volta do Messias”, para ateus isso é babaquice, para satanistas é “a grande cerimônia de posse do demônio”, para ataráxicos, como eu, ele está acabando e eu comprando meu ingresso para assistir esse magnífico show, do melhor ângulo. Não vejo a hora de ele explodir. Sério, não me importo com o mundo, quero mais é que ele exploda, e sempre deixei isso bem claro. O que me intriga é a reação humana ao deparar-se com essa situação. Alguns ainda têm esperança de acabarem com o aquecimento global, outros dizem que há solução para a corrupção, uns sonham com um mundo sem desigualdades, outros querem paz mundial. Que raio de gente é essa? Mal conseguem tratar seus próprios problemas, querem resolver os problemas alheios.
A foto do Barack, ali em cima, não é por acaso. Ele é um dos “sinais do fim do mundo”. Eu acho o máximo presenciar o fim dos tempos. Há quem não ligue, e há quem não saiba quem ele é. Quero que ele seja eleito, e acho a coisa mais fantástica que o mundo vai ver: ele se tornar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Mas também, grande coisa, só mais um presidente praquela porcaria de país. Oh, desculpe-me pela indelicadeza, os USA não são meu sonho de consumo, nem nunca foram, mas os motivos para isso são assunto para outro texto. Presenciar essa eleição não vai me beneficiar em absolutamente nada. Quê que eu quero me importando com o que acontece lá? Eu nem vou participar da eleição. Aliás, contraditoriamente falando, acho que o mundo todo deveria ter o direito de votar e eleger o futuro presidente dos USA. Só pra tornar as coisas mais divertidas.
Mas, o Barack e os USA não eram o assunto que eu ia abordar. Eu só não me contive, porque enquanto milhões de pessoas se preocupam com qualquer coisa, um ladrão rouba um carro aqui perto e, por acaso, dentro do carro estava uma criança, um menino de uns cinco anos, o ladrão ficou tão indignado que ligou para a delegacia e disse que tinha roubado um carro na rua tal, tal hora e que dentro do carro estava o menino, disse que deixou o carro atrás dum posto de saúde e que era pro irresponsável do pai ir lá buscar a criança. Vocês vêem a dimensão disso? Um ladrão mais responsável que um pai. Vou repetir: UM LADRÃO MAIS RESPONSÁVEL DO QUE UM PAI. Enquanto perdemos tempo nos preocupando com assuntos adversos um ladrão que, provavelmente, não tinha nem o ensino fundamental completo, se preocupou com uma criança que ele não conhecia. Isso prova que o mundo não tem muito tempo de duração.
É por isso que eu digo: o mundo está acabando e eu vou assistir de camarote. E viva a ataraxia que move os poucos sensatos (ou não) ainda existentes nesse mundo.

E foi-se o tempo em que andávamos por ai.


Com o passar do tempo eles mudaram. Mudaram para bem, mudaram para mau, não importa, só importa que eles mudaram. Era como se tivessem ido do ouro à prata e vice-versa, há quem goste mais de um e há quem goste mais de outro. Suas perturbações ora aumentavam ora diminuíam, mas a companhia do outro sempre os fazia bem. Transformações.

Ele queria que ela fosse do jeito que ele sempre sonhou. Bonita, inteligente, esperta, focada, fogosa até. Ele queria que ela fosse carinhosa com ele, que o entendesse, que o compreendesse e que o deixa-se chorar em seu ombro. Ele queria uma mulher forte ao seu lado, do tipo que ele pudesse se sustentar sobre seus ombros se necessário.

Ela queria que ele fosse do jeito que ela sempre sonhou. Bonito, inteligente, esperto, focado, fogoso até. Ela queria que ele fosse carinhoso com ela, que a entendesse, que a compreendesse e que a deixa-se chorar em seu ombro. Ela queria um homem forte ao seu lado, do tipo que ela pudesse se sustentar sobre sues ombros se necessário.

Eles tinham idéias diferentes, opiniões diferentes, pensamentos divergentes. Eles se amavam. Assim pensavam eles ao menos. Claro, não os desmentirei, realmente acho que eles se davam muito bem. Mas apesar de toda “coisa boa” havia um problema. Eles achavam que havia um problema.

Ele achava que ela estava querendo que ele mudasse demais, mesmo assim fazia suas vontades para deixá-la feliz.

Ela achava que ele estava querendo que ela mudasse demais, mesmo assim fazia suas vontades para deixá-lo feliz.

Eles só queriam viver juntos para sempre. Uma história bonita, cheia de sonhos realizados, promessas cumpridas, e mais um monte de coisas que no fim não importariam. Eles só queriam ser felizes. Sem mudanças, sem atos de misericórdia, sem sacrifícios, sem blasfêmias. Assim eles viveram o tempo que quiseram juntos, tempo esse que nunca se acabou.

Gente-de-fora-vem-aí


Dia perfeito. Sem sol, sem chuva, pouco vento, pouco frio, sem calor, sem mormaço, sem chuvisco. Perfeito. Acordei disposto, fiz tudo o que tinha que fazer, atendi meus clientes diários, e vivi mais uma rotineira manhã. Mas o melhor aconteceu à tarde.

Como havia terminado tudo mais cedo, resolvi fazer o que há muito tempo não fazia, não lembrava que era tão bom andar de bicicleta. Passei horas e horas pedalando, nem senti nada, parecia aquele menino que um dia fui. Quando parei, sentei no banco daquela praça cinzenta e deserta. Voltei algum tempo, vi tudo como se estivesse passando um filme em minha frente. Todos nos seus devidos lugares, as gargalhadas, as fotografias, a inocência nos rostos, a coisa toda. Os atos, gestos, até as palavras, tudinho, tudinho. Aquela tarde tinha tudo para ser um desastre, mas não foi, não a tarde. A conseqüência que aquela tarde me traria sim, um desastre. Talvez eu esteja sendo extremo demais, mas que as conseqüências não foram boas, ah, não foram. Por todo esse tempo neguei, mas no fundo eu sabia que estava preso àquele momento. Talvez não o momento, mas ela. Ela me prendera de tal forma que quase enlouqueci ao seu lado. Naquela tarde tudo estava calmo, calmo demais até, todos a esperando. Eu nem sabia que a conheceria naquele dia, para mim ela era só mais uma que passaria a minha frente. Até chegar... Chegou. Uma figura interessante, um olhar firme, olhos lindos, cor de mel, convicção era o que ela passava. Um ar de superioridade que só nela vi. Um espírito anarquista que gritava. O que pensei que passaria despercebido marcou. Muito educada cumprimentara todos, a maioria já a conhecia, eu não. Puxei um papo, não fui bem sucedido, era pouco pra ela. O que ela era, o que fazia, o que pensava, era muito para aquela gente. Todos muito superficiais, fracos e sem capacidade de raciocínio. A tarde passou, ela se foi, pensei que nunca mais a veria.

Até o dia que a vi passando na rua, não podia perder aquela oportunidade, fui ao seu encontro e perguntei se lembrava de mim, ela lembrara, conversamos muito, ao seu lado nem vi o tempo passar. Ela me cativara de maneira indescritível. A partir desse dia nos víamos regularmente, sua companhia era o que me bastava, seu sorriso me encantava, seus ideais e seus objetivos me fascinavam. Ela era o meu vício, e os outros, eram apenas os outros. Por meses e meses as minhas tardes resumiam-se a ela. Até o momento que declarei meu amor por ela. Sua reação foi inversa a que eu esperava. Eu, o cara que nunca precisou de muito para ter alguém, que nunca se apaixonara verdadeiramente, desprezado. Ela veio com aquela historinha clichê que todas contam: “Somos amigos, não vamos misturar, tenho medo de perder sua amizade...” Nesse momento a vi como vejo todas. Só mais uma. Uma qualquer... Qualquer que ainda me fascinava, que cada vez mais me encantava. Eu não sabia o que fazer, mesmo desprezado precisava dela, como disse antes, ela era o meu vício. Ela não correspondia a minha amizade, tudo acabara ali, eu a queria por perto, ela queria distância.

Mudou-se. Viajou, nunca mais ouvi sequer falar dela. Não a vi ir, ela não fazia questão, foi melhor. Mas o pior foi a falta que ela me fez. Meus dias não acabavam, as pessoas já não me importavam, meus clientes eram nada. Tudo era nada, o mundo já não era o mesmo. Depois dela, nada mais me completava, mas eu tinha que ir em frente... Aqui estou sobrevivendo nesse mundo fedorento e colorido.