Vida Real. [2]


- Ah cara, dá uma chance pra ela vai.
- Já disse que não.
- Por que, meu velho? Não se sente confortável?
- Ela é para ser uma mulher ou uma poltrona? Olha aqui, faço o que bem entender.
- Também não é bem assim. Ouve algo do que eu falo, às vezes pelo menos.
- Nunca disse que queria te escutar.
- Grande coisa, vou continuar falando.
- Saco. Tá bom senhor Einstein, o quê quer que eu faça?
- Pense.
- Engraçadinho.
- Parei. Enfim, dá uma chance.
- Claro. Claro que não, né?
- Deixa de ser cabeçudo. Uma chance não faz mal a ninguém.
- Uma chance não faz mal a ninguém, balela. Não me importo com ela.
- Não é? Não é isso que eu acho.
- E se eu gostar? Qual o problema? Tu também gosta dela, certo?
- Gosto.
- Por isso que fica me enchendo para continuar com ela.
- Exato.
- Por que não tens coragem, cara?
- Eu tenho. Mas tu não faz nada para ajudar.
- Não faço? Tu que fica parado.
- Fico mesmo, minha função não é mexer.
- Não? E qual é?
- É fazê-la continuar se mexendo.
- Safado, só pensa em sexo.
- E não é para pensar?
- É e não é.
- Quanto a sexo, não tem como ser e não ser!
- Tem sim. E é.
- Ah cara, tu é gay.
- Não sou, e mesmo que eu fosse ia ter que agüentar.
- Não agüentaria, me matava.
- Duvido. Alias, não quer tentar? Vai que dá certo.
- Engraçadinho. Enfim, como estão vocês dois? Não falei mais com ela depois daquela noite.
- Estamos bem, ótimos, alias.
- Então qual o problema?
- Bom, na verdade, não tem problema.
- Não?
- Não.
- Que merda, cara. Então por que tu me assustou daquela maneira hoje cedo?
- Tô para te dizer que não foi eu que te assustei.
- Como não? Claro que foi.
- Foi eu não, cara, foi tu mesmo. Tu que pensou o que tu achou que eu tinha pensado.
- Mas não pode ser. Não tem como.
- Tem e teve.
- Droga.
- Viu? Eu não tenho nada a ver com isso.
- Desgraçado.
- Quem?
- Tu.
- Eu? Por que eu? Não fiz nada.
- Não fez nada? Tu engana o mundo, mas não pode me enganar. Desgraçado.
- Tá bom, culpa minha. Mas não importa, quem pensou foi tu.
- Mas as imagens eram tuas.
- Manipulação, meu caro, manipulação.
- Tá bom então.
- Como assim tá bom então?
- Tá tudo bem, não vai acontecer nada.
- Eu sei que não vai, mas não entendi o que tu quis dizer.
- Eu? Eu não quis dizer nada.
- Como não? Foi subliminar, mas quero saber o que foi.
- Era só um pensamento sobre como será essa noite.
- E o que tem de mais nisso?
- Nada de mais, meu caro.
- Desgraçado. Agora entendi. De novo não, não vais fazer isso.
- Vou sim.
- Mas como? Achei que fosse impossível.
- Ninguém mandou me passar os teus pensamentos errados e não observar os meus pensamentos certos.
- Mas como? Me explica!
- Manipulação, meu caro, manipulação.
- Desgraçado, e eu não aproveito nada.
- Não aproveita mesmo. Alias, hoje a mente é minha. O dia inteiro.
- Pode ficar, não vai ter nada hoje, nem mesmo de noite.
- Não é? Legal.
-...
-...
- Vai ter, né?
- Vai sim.
- Desgraçado.

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