Admite.


- O que tu tá fazendo, Ana?
- To pensando, Pedro. Pensando em tudo e em nada.
- Não pára de pensar, guria?
- Eu não consigo. Mas agora o negócio é sério.
- E qual o negócio agora?
- Ah, Pedro, é difícil explicar, é meio complexo, não sei se tu vai entender.
- Ana, quando que eu não entendi o que tu me falaste?
- É que agora é diferente, não diz respeito a mim, eu nunca penso nos outros, quero mais é que eles morram, mas agora, agora é diferente, não sei porque tô pensando nos outros. E o pior, é com pena.
- É o Edu, não é? Eu sabia.
- O Edu me preocupa, Pedro, preocupa muito. Ele ainda é inocente, tem muito pra viver, quê que ele quer metido naquilo?
- Escolhas, Ana, escolhas.
- Mas não é uma escolha certa, entenda. Ele vai se ferrar no final, tá fazendo isso só pra chamar a atenção.
- Sim, é só pra chamar a atenção, mas não podemos fazer nada. Ele não quer ajuda.
- É isso que me embravece! Ele nem sabe no que tá se metendo e ainda quer bancar o machão.
- Ana, pára de pensar nele, ele não quer ajuda. Deixa-o pra lá.
- Porra, Pedro! É assim que tu pensas? O Edu é teu amigo, tá acabando com a vida dele e, tu não vai fazer nada?
- Tente entender, querida. Eu já estive numa situação parecida, e eu pude escolher, optei pelo não. Edu é grandinho, tem escolhas próprias, ele sabe as conseqüências que vai sofrer, se ele quer ferrar a vida dele, deixa.
- Eu não consigo admitir, Pedro. Não consigo. Eu vi Edu crescer, não engulo essa história, e nem vou engolir.
- Não te peço pra engolir, seria hipocrisia minha, mas te peço pra apoiar ele.
- Apoiar?
- É, Ana. Me admira tu não ter pensado em apoiar ele. Ele quer chamar a atenção, ele só tá fazendo isso pra aparecer, mas pra ele querer aparecer só pode ter um motivo. Ele se sentia só.
- Mas ele nunca foi solitário. Sempre estivemos do lado dele.
- Sim, mas estávamos ao lado dele sem saber o que se passava com ele. Nunca perguntamos o que ele sentia, o que ele queria...
-...
- Ana, somos dois egoístas que só olham pro próprio umbigo! O problema é que eu sou consciente de que tive culpa, na situação do Edu, tu não. Tens que assumir a tua parcela de culpa.
- Talvez o que eu não admitia nem seja a situação do Edu, mas sim o fato de ter que admitir a minha culpa.
-...

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