Tchibummm!


Por medo de poluir o carro, anda-se muito a pé.
O mundo ao inverso, assim ele é.

As pessoas, quem dera, fossem de pano
Só assim a agulha duraria mais de ano.

Por medo do escuro, inventou-se o travesseiro.
Mas é no colchão que se esconde o dinheiro.

Não olhe pros lados em dias ventosos.
Desfaz os cabelos, até os vistosos.

A mentira é pura falsidade.
Claro, nem eu sei se isso é verdade.

Creia em tudo que lhe der confiança.
Nunca se sabe quando precisará de fiança.

Por sim e não, ao ver da fera,
Esqueça, é tudo balela.

O que se quer de verdade é beleza.
Não que não se creia na nobreza.

Fuja do cotidiano fétido.
Escale montanhas e seja atlético.

Não leia o que escrevo aqui.
Mas quando me ver, puf, sumi.

A respeito daquela coisa...




Lembro-me de quando eu engatinhava por ai e minha única preocupação era babar o maior numero possível de coisas. Lembro quando minha mãe chamava para almoçar e todos ficavam com vontade de se convidar. Lembro de quando passei o mês inteiro com a perna engessada e não pude fazer nada. Lembro que nesse mês choveu durante trinta dias.

Lembro do tempo em que ligávamos a TV, assistíamos a novela das oito as oito horas. Lembro quando o videogame era disputado por todos e o controle tinha de ser trocado todos os meses por falta de botões. Lembro que era preciso encostar no dedo do anão para andar de montanha russa. Lembro de quando quebramos o anão só para poder encostar no dedo dele. Lembro dos dias que pareciam não acabar. Lembro dos dias que eu não queria que acabasse.

Lembro dos abraços que dei, dos beijos que roubei e dos amassos que fiquei devendo. Lembro do banco da praça e do velho senhor que nele todo dia sentava. Lembro quando ele me disse que aquela menina seria perfeita para mim. Lembro das fugas no parque que eu nunca entendi direito para que quê serviam.

Lembro do nascimento do meu filho. Lembro da cara do médico ao dizer que era a cara do pai aquele garoto forte que acabará de nascer. Lembro das noites em claro. Lembro do avião que decolava em direção a lua partindo das minhas pernas. Lembro do meu filho pegando esse avião todas as noites.

Lembro do meu casamento com aquela simpática moça que conheci no parque e que, por sei lá o que, estava acompanhando a menina que o velho senhor disse que seria a minha vida. Lembro de todas as brigas, de todas as noites em claro, de todas as comemorações. Lembro de quando ela me deixou para se juntar aos outros.

Lembro quando me saiu o primeiro fio de cabelo branco. Lembro da minha primeira tintura de cabelo para tapar fios brancos. Lembro da minha bengala mágica. Lembro do dia durar mais que a noite e a manha ser quase eterna. Lembro-me de tudo.

Agora, no final da minha vida, nas ultimas paginas do meu livro, vejo que não aproveitei nada, não fiz nada do que eu queria fazer, não ganhei dinheiro o suficiente, não participei de festas o bastante. Não fiz nada do que a vida reservava para mim. Mas na última página desse livro vai estar escrito:

E ele viveu feliz até agora, porque o tempo não permitiu que ele fizesse tudo o que queria, nem vivenciasse tudo o que desejava, mas deu a ele a mesma chance que dá a todos os humanos. A chance de fazer a diferença na sua própria vida.