Amizade, ou seja, Aquilo.


- Ah cara, to mal.
- Quê foi cara? Aconteceu algo?
- Ah meu, a mesma merda de sempre. Não adianta.
- O quê aconteceu? Fala.
- Não dá mesmo para confiar. Eu tentei, fiz o meu melhor, mas não adianta.
- Tá me deixando preocupado. Vai me falar o que é ou não?
- É a Nami cara.
- O que tem ela?
- O que tem ela? Simples, eu não quero mais saber dela.
- O quê? Que droga foi essa que tu acabou de falar?
- Ah velho, não tem mais como continuar com ela.
- Mas aconteceu algo?
- Se aconteceu algo? Não, eu resolvi que quero acabar com ela por nada sem avisar ninguém. É claro que aconteceu algo né cara.
- Então me diz o que é oras.
- Ah cara, ela me traiu.
- O quê? Mas como? Impossível! Não ela.
- Que merda cara, não tem mais como confiar nas mulheres de hoje em dia mesmo.
- Mas espera aí, te traiu com quem?
- Ah, eu não sei o nome do cara.
- Não sabe ou não quer dizer?
- Não sei, não tenho o porquê mentir pra ti.
- É verdade. Mas ele é daqui?
- Bom, ela disse que é.
- Como assim ela disse? Vocês já conversaram?
- Mais ou menos. Não conversamos de verdade ainda, trocamos uma idéia, vamos dizer.
- E chegaram, ou tu chegou, a alguma conclusão?
- Cheguei.
- ...
- ...
- E então vai falar ou não?
- Não pretendia.
- Não pretendia, mas vai. Fale.
- Bom, primeiro é que eu vou dar uma chance a ela.
- Certo.
- Segundo é que eu nunca mais vou conseguir confiar nela.
- Aham.
- E terceiro e mais importante, nunca mais vou confiar em uma mulher como eu confiei nela.
- Não acha que tá generalizando?
- Não. Vai ser assim.
- Mas e vocês? Como vão ficar?
- Unidos.
- Unidos? Tá querendo dizer o quê?
- Que não será mais o namoro de sempre.
- Mas nem pensar em dar uma chance para ela?
- Eu estou dando uma chance.
- Mas não parece.
- Como não parece? Estamos juntos, não estamos?
- Não, não estão juntos, estão unidos. Escuta aqui, tu vai dar uma chance para ela sim.
- Ui machão. Vai me obrigar é?
- Na real, vou sim.
- Certo, digamos que eu esteja afim de te escutar, o que tens a me dizer?
- O que tenho a ti dizer? Que tu é um baita de um pau no cú.
- Vai te fudê, nem sabe do que tá falando.
- Não sei é? Estão juntos a quanto tempo?
- Oito meses.
- Certo, oito meses. E graças a quem?
- Como assim “graças a quem”? A nos dois é claro.
- Não mesmo, graças a ela.
- Vai começar.
- Vai sim. Sabes do que eu to falando.
- Mas foi diferente.
- Sempre é diferente quando é com a gente. Sempre temos as melhores desculpas e por mais incrível e improvável que possa parecer, a culpa nunca é nossa. Certo?
- Mas a culpa não foi minha.
- Ah sim, tu traiu a Nami com outra guria, mas na verdade a guria transou contigo sem tu saber.
- Não foi bem assim.
- Se não foi assim, então tu sabia o que tava fazendo.
- Mas eu tava drogado cara.
- Pior ainda, não sabe se controlar. Daqui a pouco se mata de overdose e não sabe o porquê.
- Sabe que eu não gosto de falar sobre o que eu fiz.
- Por isso mesmo que falaremos. Enfim, onde quero chegar é, quando tu traiu ela a três meses atrás ela te perdoou certo?
- Bom, mais ou menos.
- Mais ou menos é?
- Que merda cara. Ela me perdoou sim, mas e daí?
- Sabia que as cobras podem morrer se ingerirem o próprio veneno?
- Tá me chamando de cobra é?
- Não cara, mas podia te chamar de rato, um rato machista, é o que tu tá sendo.
- Só por que eu não aceito a traição dela?
- E precisa aceitar? Apenas esqueça e de uma chance a ela.
- Fácil falar.
- Como assim? Não entendi.
- Tá, esquece. Não foi o que eu quis dizer. Enfim, ela não tinha o porquê me trair.
- E tu tinhas quando traiu ela? A gente nunca tem um motivo real para essas coisas.
- Tá cara, vou perdoar ela então.
- Não vai.
- Como não?
- Não vai perdoar, nunca vai conseguir fazer isso. Assim como ela não te perdoou com o que tu fez com ela. No maximo ambos podem se esquecer do que aconteceu, e é o que farão provavelmente.
- Te odeio cara.
- Dá logo um abraço. Te entendo, tu sabe.
- É que eu a amo. Não quero perdê-la.
- Mais um motivo para dar uma chance.
- Mas falamos tanto de mim que até me esqueci de ti. Como está? Parece bem feliz para mim. O teu quase-casamento-de-dois-anos como vai? Vocês sim que são um casal perfeito! Eu devia me espelhar em vocês.
- Não devia não, eu acabei.
- O quê?
- Acabei.
- Mas por que cara?
- Ela me traiu.

Um comentário:

Miguel Sacri dos Anjos disse...

Todo mundo adooora dar conselhos. Algumas pessoas deveriam pensar em seguir os próprios, não eh mesmo?

Grande trabalho, casal, mas tem muita coisa que eu quero debater ao vivo.

Bracci!