Histórinha


Ai começou. Tipo, era meio estranho. Acho que aquele líquido era LSD. Mas vai se saber. Até hoje tenho medo de tesouras. E palmadas na bunda. Sem falar daquela maldita agulha. Mas houveram também as coisas boas. Tipo, poder vomitar em qualquer lugar e em qualquer pessoa, comer o tempo todo, dormir a hora que quiser, enfim.
Mas depois de um tempo a gente tem que começar a caminhar, se exercitar um pouco. Corre, pula, dá de cara em alguma coisa. Era frustrante, mas valia a pena, nem que fosse pra ganhar um pirulito depois.
Seguindo a bagaça, veio a hora de começar a sair. Claro, quem estuda em casa? Quem fazia o dever? Há, duvido. Ninguém nunca vai inventar algo tão legal como aquele período de tempo onde se era rei de alguma coisa, dependendo do local, e onde o reino parecia querer o mesmo que você. Das amizades dali pouco foi levado e muito foi aprendido, principalmente aquela coisa que os adultos prezam tanto e que reclamam nunca encontrar.
Mas o tempo passa e se percebe que o que importa é seguir a sociedade. Se encaixar. Usar o controle um. Não usar o carro vermelho. Sentar atrás. Percebe-se o que é importante pra nós. Claro, isso muda toda semana, mas isso não importa. Ou importa sim. Claro que importa.
Se começa a pensar no futuro, enquanto todos ficam por ai, tu fica ali, e fica, vidrado, focado, quase nem pisca. Presta o máximo de atenção. Enquanto os outros dormem, você faz o que eles reclamarão por não ter feito daqui a dez anos. Faz o que deve ser feito, se distrai, volta e no final o resultado é satisfatório. Isso tudo pra depois você notar que não valeu de nada, pois onde tu queria estar já é ocupado por alguém que não fez nada do que tu fez, não passou por nada do que tu passou e ainda por cima é dito que ele é melhor que tu.
Fazer o que né. É a vida.

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